❈ Experiência do Senísivel❈

❈Minha Terrinha
A minha terra busquei em um estrada, estrada essa onde presenciei vários acontecimentos na maioria deles coisas ruins, momentos de dificuldades.
As recordações que essa terra me trás, são recordações de luta, força e coragem, momentos de resistência. E a pergunta é, porque ao invés de coisas boas e felizes, a minha decisão tenha sido recordar sofrimentos? Fiz essa escolha, por que apesar de ter sido momentos que eu não queira que voltem nunca mais, hoje sou o que sou, boa parte devo a estes momentos.
Nessa estrada já passei fome e sede, já passei muito estresse. Nessa estrada já vi acidentes, já vi sangue, já fiquei com sono sem poder dormir, já andei até me cansar, as forças acabarem e eu não podia parar, já fiquei atolado que para sair deu trabalho.
Esse chão de barro que entre tantos buracos, lamasais e penhascos levam a Sapucaeira, Santana e Santaninha, que levam até as Serras, Das Trempins, Do Padeiro e tantos outros locais.
Me lembra até hoje da primeira vez que andei por esta estrada, eu tinha uns dez anos mais ou menos e estava indo morar no Santana, para mim foi uma viagem que parecia não ter fim. Quando passamos pela ladeira de Ioiô, foi um dos momentos mais marcantes para mim, pois ela é tão grande e inclinada que pensei que o onibus não fosse capaz de subir, mas subiu! Assim seguimos viagem, sobe ladeira, desce ladeira, o onibus pulava horrores de tantos burracos tinha na estrada. Até que enfim chegamos, mas a viagem foi cansativa, longa e balanço foi tanto que assim que o onibus parou no ponto final, meu irmão mais novo vomitou o onibus inteiro e tivemos que limpar tudo, hoje é até uma história engraçada, mas na hora foi bem irritante.
Outras histórias que me marcaram bastante, era quando estava indo para o colégio. Eu morei no Santana durante uns três meses, depois me mudei para a Serra das Trempis, onde morei por mais ou menos um ano. Nesse periodo que morei na Serra, fique na aldeia Providência de Deus, mas infelizmente teve reintegração de posse e fomos obrigados a sair do que lugar onde sempre foi nosso, então nos mudamos para Olivença, saímos da zona rural e fomos para a zona litoral da minha aldeia Tupinambá.
Eu entrei no colégio indígena, assim que fui morar no Santana, no quinto ano do ensino fundamental I, o colégio se localiza em Sapucaeira, Distrito de Ilhéus. Quando me mudei para Olivença, não quis sair do meu colégio indígena, tinha muito orgulho de estudar lá e hoje e tenho mais orgulho de ter me formado lá, o ensino podia até não ser dos melhores, mas era o Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença. Só que a viagem todo santo dia, de Olivença para Sapucaeira nunca foi fácil, a gente passava por "perrengues" quase todo dia, primeiro porque a estrada não é boa, depois os transporte escolar sempre foram da pior qualidade. Eu tinha que acordar todo dia as cinco horas da manhã, para chegar no colégio as sete e meia a oito horas.
Nessa viagem todo dia, já fiquei atolada várias vezes, porque lá é choveu o onibus atola na certa, ai tinhamos que descer para ajudar a desatolar, na maioria das vezes com fome, porque não havia dado tempo para tomar café. As vezes não tinha jeito, tinhamos que esperar o socorro que demorava horas para chegar. Já sofremos atentados por sermos indígenas, onde os fazendeiros colocavam pistoleiros atrás do escolar para tentar nos matar, por conta dos conflitos de terra. Já atiraram pedras contra o escolar, os vidros das janelas quebraram e feriram alguns alunos. Já vi o transporte esoclar quase cair penhasco abaixo, por conta do motorista ter perdido o controle na estrada.
Enfim, foram oito anos da minha vida que tive que enfrentar barreiras diárias, mas isso ia me fotalecendo, me ensinando que a vida não é fácil e nunca será. Eu tinha a opção de não passar por isso, de estudar em um colégio em Olivença, onde não era estrada de chão, era pista e bem perto da minha casa, mas optei por seguir esse caminho mais difícil, pois nele enxerguei que o meu aprendizado seria maior, hoje fico feliz por não ter me engano.
